Selfie no espaço

 Em Imprensa

Separe a máquina fotográfica, o turismo espacial já está preparado para decolar e você não vai querer deixar de compartilhar nenhum momento

“Olhei para todo o teu esplendor. Imagem magnífica. Instante único. Memória para sempre. Tuas cores, teu brilho, tua beleza inigualável, oásis neste imenso Universo. União instantânea. Amor à primeira vista!”.

A imediata paixão dedicada à Terra é de Marcos Pontes, primeiro e único astronauta brasileiro a ir ao espaço. A descrição do vislumbre com a imagem do nosso planeta, visto a mais de 400 quilômetros de altitude, foi a maneira escolhida por ele para registrar sua passagem pela Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), em 2006, quando participou da Missão Centenário.

Hoje, os astronautas também não perdem a oportunidade de deixar para a história os momentos dentro e, até mesmo, do lado fora da ISS. Diferente do brasileiro, eles optaram por gravar o belo azul da Terra em fotografias, mas sem esquecer também de aparecer nas imagens. Os astronautas se renderam a ‘selfie’.

A febre entre eles ganhou repercussão com o astronauta americano Mike Hopkins, em 2013, que aproveitou para tirar uma foto de si mesmo durante a troca de uma bomba de resfriamento da ISS. Mas a moda deve ganhar maior proporção no próximo ano, com a chegada de turistas ao espaço, que pagarão caro para conhecer o cosmos e, com certeza, não devem deixar de compartilhar todos os momentos dessa aventura.

Brasileiros já estão de malas prontas

Está longe de o Brasil formar outro astronauta, pelo menos na perspectiva de Marcos Pontes, mas, se você quiser pular toda burocracia, estudo e dedicação para chegar mais perto das estrelas e experimentar a gravidade zero, basta ter a conta bancária recheada. O valor para quem ambiciona esta aventura é de US$ 250 mil. Além disso, apesar do valor salgado, o tempo para flutuar no ambiente de microgravidade é relativamente curto, de aproximadamente sete minutos.

Uma passagem para o voo suborbital ainda está fora da realidade da maior parcela da população do planeta, mas já é bastante inferior se comparado ao que pagou o primeiro turista espacial do mundo, o multimilionário norte-americano Dennis Tito. Em 2001, ele desembolsou US$ 20 milhões para embarcar na nave espacial russa Soyuz TM-32 e permanecer por 10 dias na Estação Espacial Internacional.

É certo que o tempo que Dennis Tito passou no espaço é bem superior ao oferecido pela Virgin Galactic – primeira empresa de turismo espacial, que está com o projeto avançado para enviar turistas ao espaço com a nave SpaceShipTwo (SS2) – mas por 80 vezes menos será possível conhecer o cosmos.

Sim, continua muito caro, mas o preço não foi problema para os 600 aventureiros que já adquiriram o bilhete espacial para entrar a bordo do SS2 e aguardam seu dia de astronauta. Desses, pelo menos cinco são brasileiros. A previsão é que o primeiro voo suborbital aconteça no segundo semestre de 2015.

“A Virgin Galactic, que atualmente é única empresa com um protótipo pronto para realização deste tipo de turismo, já vende a reserva de bilhetes para voos suborbitais comerciais com alguns minutos de duração. Se tudo ocorrer como planejado, os primeiros voos devem acontecer no segundo semestre do ano que vem”, contou Pontes.

A perspectiva para o desenvolvimento do turismo espacial nos próximos dois anos é animadora. Segundo o astronauta brasileiro, o investimento da Nasa, Agência Espacial Americana, no setor privado, tem acelerado o barateamento das passagens para os voos. O aumento da procura por esse setor deve diminuir os custos para a realização dos voos, fazendo cair o preço das passagens.

“Graças ao incentivo da Nasa para o desenvolvimento do setor privado, a tecnologia está cada vez mais acessível à população em geral. Considerando que a partir do ano que vem será possível conhecer o cosmos com ‘apenas’ 250 mil dólares, vimos um avanço significativo neste aspecto. Há uma expectativa que iremos levar para o espaço nos próximos dois anos, o que a Nasa levou em 50. Este crescimento na demanda deve baratear ainda mais os custos”, prevê Pontes.

Como chegar ao espaço

Para se tornar um turista espacial, “basta realizar um treinamento simples de um ou dois dias para conhecer os sistemas de emergência e o que deve e não deve fazer durante o voo. Como se o briefing de segurança do comissário de bordo na saída dos voos comerciais durasse um pouco mais tempo”, explica Pontes. Além disso, o interessado em ultrapassar a Linha de Kármán, limite teórico entre a atmosfera terrestre e o espaço exterior, a 100 km do nível do mar, deve se submeter a um exame médico que comprove que está apto para a aventura.

No Brasil, três empresas de turismo comercializam os bilhetes da Virgin Galactic. Uma delas é a Agência Marcos Pontes. “Somos uma agência de viagem para turismo de aventuras. Nós temos uma licença concedida pela Virgin Galactic para a venda de passagens”, afirma o astronauta, um dos proprietários do empreendimento.

Segundo ele, a sua agência é a única no mundo que ministra um curso de preparação para o turista conhecer o espaço. Este diferencial a colocou como a quinta no planeta que mais vende as passagens para o voo suborbital. “Essas aulas incluem itens de preparação pessoal e fisiologia espacial, o que permite um maior aproveitamento e segurança dos nossos”, detalha, destacando que será o professor daqueles que comprarem o bilhete com sua empresa.

Turista espacial x astronauta

Conquistar o espaço, seja como profissional ou como turista, o tornará um astronauta, pelo menos para a legislação americana. Pela lei dos Estados Unidos, astronauta é aquele que viaja acima de 100 quilômetros. A Virgin Galactic promete levar seus passageiros até 109 quilômetros. Caso você deseje embarcar no SS2, já pode começar a sonhar com o novo título, com direito a distintivo.

“Contudo, este é apenas um rótulo que não possui valor algum do ponto de vista profissional. A diferença entre um astronauta profissional e um turista espacial é a mesma entre um piloto de uma empresa aérea comercial e um passageiro que é transportado pela aeronave”, afirma Marcos Pontes.

Para os que querem ir além, a caminhada é mais longa. “Para se tornar um astronauta de verdade é preciso, por exemplo, ser treinado como especialista de missão e concluir o curso de formação, com duração mínima de dois anos, no Johnson Space Center (Nasa) ou na Cidade das Estrelas (Rússia)”, esclarece Pontes.

Já para aqueles que se contentam em experimentar o voo como turista, mesmo que não sejam astronautas profissionais, além de desfrutarem de toda emoção e diversão, terão o prazer de se considerarem homens do espaço.

Menos de três horas para conhecer o espaço

A SpaceShipTwo decolará da Spaceport America, no Novo México. A espaçonave estará acoplada à White Knight Two. O lançamento da SS2, diferente do que ocorre com os conhecidos foguetes, acontecerá do alto, na altitude de 15 quilômetros. A inovação torna o voo mais barato, já que pula a etapa que queima mais combustível.

No ar ultrarrarefeito, o WK2 libera a SS2. Neste momento, os pilotos acionam a ignição do motor híbrido e a SS2 acelera verticalmente com velocidade supersônica de mach 3, durante cerca de 90 segundos, subindo mais de 91 mil metros. A altitude máxima atingida pela SS2 será de 109 quilômetros, onde os passageiros experimentarão, por cerca de sete minutos, a gravidade zero.

Terminado o tempo no espaço de microgravidade, a tripulação retornará aos seus assentos para a reentrada na atmosfera. A SS2 vai desacelerar até que chegue a uma altitude de cerca de 21 mil metros, quando os pilotos reconfiguram as asas do modo desaceleração para o modo planador. A espaçonave planará até pousar na base espacial. Após o retorno, os passageiros receberão seus distintivos de astronautas.

Treinamento

Os passageiros da Virgin Galactic precisarão passar por exame físico e fazer três dias de treinamento antes de voar. O treino inclui girar em uma centrífuga de 3 a 4 Gs e voos com gravidade zero a bordo da aeronave White Knight Two (WK2). O treinamento acontecerá no Spaceport America, no estado do Novo México (EUA).

Tripulantes

Dois pilotos e seis passageiros.

Duração e altitude

O voo suborbital, entre subida e descida, terá a duração de duas horas e meia. A SpaceShipTwo (SS2) atingirá 109 quilômetros acima da Terra.

SS2

A SS2 tem 18,3 metros de comprimento e 2,3 metros de largura. Possui uma amplitude de asa de 8,2 metros e altura de cauda de 4,6 metros. A cabine de passageiros tem 3,7 metros de comprimento e 2,3 metros de largura.

A espaçonave foi produzida de forma que os passageiros não precisem vestir os pesados trajes de astronauta. A fuselagem dupla de composto de carbono, feita de painéis de carbono com núcleo estruturado, possibilita que a cabine fique completamente pressurizada.

As janelas de vidraças duplas do SS2 são capazes de suportar diferentes pressões e dão aos turistas uma visão privilegiada da Terra e do espaço.

WK2

A WK2 é movida por quatro motores turbojatos tipo Pratt e Whitney PW308A, funcionando como uma aeronave a jato. Assim como a SS2, é feita de compostos de carbono. Em ambos os lados existem compartimentos para tripulação e centralmente entre eles é acoplada a SS2.

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