Pioneirismo no espaço

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Um dos projetos industriais mais importantes do século –
Por Marcos R.Palhares –

Algumas pessoas me perguntam porque escolhi realizar uma viagem espacial. Outras me questionam sobre o valor para se realizar uma viagem espacial tão rápida quanto a que farei, ou seja, não mais que 2 horas de experiência e talvez, bem menos de 10 minutos em micro gravidade. Algumas vão mais além e zombam de minha escolha, como se fosse apenas um evento para quem tem muito dinheiro poder ter seus minutos de glórias e holofotes. Por vezes assisti as palestras de meu amigo pessoal e sócio, Marcos Pontes, com pessoas questionando \”os feijões mais caros do Brasil\”, referindo-se a uma desinformada ideia sobre sua missão científica pelo nosso País.

Eu atendo a todos com a mesma tranquilidade na resposta. Olho bem para os olhos do questionante, mantenho meu rosto sereno e respondo com humildade:

Você já se perguntou qual a sua missão nesta vida?

Todos nós temos (ou deveríamos ter) um motivo muito importante que justificasse o custo que geramos para o nosso planeta. Sim, porque muitas pessoas esquecem que em toda nossa vida, devoramos recursos do planeta que muitas vezes não se renovam e isto é custo. Sejam as toneladas de alimentos, muitas delas geradas por milhares de animais que são sacrificados, os milhares de litros de água para nossa sobrevivência e higiene, os produtos que adquirimos ao longo de nossa vida, muitos deles até supérfluos, mas que consomem recursos minerais diversos. Vale lembrar que uma boa parte não são recicláveis ainda e estão de alguma forma poluindo nosso meio ambiente, nossos mares e rios.

Todos nós de alguma forma deveríamos pensar em como justificar nossa vinda a este belo planeta que nos acolheu, e que nos doa constantemente condições para permanecermos aqui. Assim, penso que devemos sempre buscar o melhor de nós para nós mesmos, para os nossos semelhantes e para o meio ambiente. Buscar garantir que nossas ações contribuam significativamente para a continuidade, com sustentabilidade. Buscar garantir que “nossa marca”, a pegada que deixamos neste mundo possa fazer a diferença para as próximas gerações que seguirão.

Ora, o que tudo isso tem haver com minha escolha de ir ao espaço?

Tudo.

Quando ainda era muito pequeno, meu desejo de conhecer o espaço estava intimamente ligado ao fato de parecer algo divertido, aquela roupa maneira cheia de funções, poder brincar de flutuar, realizar missões secretas…Na minha juventude meu desejo permaneceu pela sensação de “liberdade suprema”, regada a muita aventura. Quem não se fascina nos filmes com aquela vista maravilhosa de nosso belo planeta azul brilhando em meio ao escuro infinito do espaço?

Hoje meus olhos entusiasmados, mas maduros, minha mente mais treinada e experiente enxergam tudo isso e muito mais: quando nos referimos aos vetores que nos permitem uma viagem ao espaço, bem provavelmente estamos nos referindo a mais fascinante obra de engenharia já criada pelo homem e que, algum dia poderá inclusive nos salvar da extinção. Você pode pensar que sou algum louco imaginando diversos cenários apocalípticos, mas a história nos conta que isto é provável e já aconteceu. Já aconteceu antes e pode acontecer de novo.

Os dinossauros não estavam nem um pouco preocupados com reciclagem, e apesar de não ter sido este o ponto, viveram os momentos mais devastadores de uma catástrofe natural. Em suma, a solução aponta para o espaço. Não apenas para nossa sobrevivência, como também para o nosso desenvolvimento e crescimento tecnológico, uma opção realista para a extensão humana.

Uma vez democratizado o espaço, muitas coisas podem mudar para melhor mesmo nas bobagens do dia a dia. Já pensou em você mesmo ser dono de um canal de televisão? Ter seu próprio satélite vigia de sua casa? Operar sua própria rede de comunicação telefônica, muito mais moderna e avançada onde a linha nunca cai? Você poderia frequentar seu clube no espaço, um local reservado onde teria as mesmas facilidades que temos hoje, com o conforto de um sofisticado Hotel com vista panorâmica para a Terra…a criatividade humana certamente nos levará a ideias que hoje parecem absurdas. Mas este é apenas o detalhe. De repente, o feijão cultivado no espaço seja um super-feijão, tão rico que será capaz de acabar com a fome na Terra.

Então eu vou ser mais claro. Eu não apenas paguei por uma viagem ao espaço. Eu escolhi contribuir a uma indústria que esta apenas engatinhando e que precisa de todo e qualquer incentivo de que se disponha. Sim, minha resposta foi sim! Enquanto que para a maioria das pessoas ainda parece absurdo, para mim tudo é muito nítido.

Eu escolhi fazer minha parte e “apostar”. Não há outra palavra para este significado, “apostar”. Existe o risco de não dar certo, ocorrer algum problema no projeto e talvez assumir a possibilidade de eu nunca em vida poder alcançar o espaço. Eu fiz uma escolha. Investi bens materiais e financeiros porque acredito na minha escolha. Eu estarei torcendo pelo sucesso desta escolha em todos os níveis de meu pensamento, até mesmo se ela falhar.

E mesmo se isto ocorresse, eu provavelmente já tenha cumprido minha missão. Recentemente a Virgin, companhia responsável pela minha viagem ao espaço noticiou uma série de avanços gerados por esta iniciativa: por razões de segurança, o foguete espacial é lançado a partir de um porta-aviões especialmente projetado. Esta aeronave é o maior veículo de aviação -all- carbono composto já construído e é o mais leve e mais eficiente em termos de combustível de aeronaves para seu tamanho. O ganho de eficiência na redução em tonelagem de emissões de carbono é melhor do que em uma viagem aérea Nova York – Los Angeles. Portanto, somente falando em materiais e combustíveis, tivemos um ganho de eficiência que trará legados. Semana passada tivemos o terceiro voo teste desta espaçonave. Estes primeiros voos permitem continuar a investir e desenvolver novas e cada vez melhores tecnologias, ajudando a fornecer respostas para alguns dos nossos maiores desafios aqui na Terra. Compreender o bem que faço em contribuir para que este projeto siga adiante, é um incentivo para pesquisadores e cientistas que moldarão os dias do amanhã.

Como dizem dois de meus companheiros espaciais, eles próprios cientistas respeitados, o Profs . Stephen Hawking e James Lovelock, “compreender o bem da missão é seu papel vital para ajudar a realizá-la”.

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